O Brasil em Síntese reune informações que permitem traçar um panorama nacional sob a forma de gráficos e tabelas, apresenta dados sobre território, população, educação, trabalho, habitação, agropecuária, indústria, comércio, serviços e contas nacionais.

Um país não pode se constituir apenas de pessoas sendo assim, para construir suas sociedades, os seres humanos precisam conhecer, conviver e trabalhar com outras espécies, estruturas e processos que eles não criam e sobre os quais não têm completo controle. Ar, água, minerais, plantas, animais, a energia vital do Sol. Esses e outros elementos da biosfera produzem a variedade paisagística que encontramos na superfície da Terra.

Uma maneira bastante sintética para se descrever essa variedade é classificá-la segundo biomas. Bioma é um conceito que os biólogos e geógrafos criaram, na primeira metade do século passado, para descrever grandes sistemas ecológicos definidos, principalmente, pelo clima. Trata-se de uma área com dimensões normalmente superiores a um milhão de quilômetros quadrados em que o clima, a fisionomia da vegetação, o solo e a altitude são semelhantes ou aparentados. O critério florístico não é determinante. Comunidades vegetais que guardem diferenças importantes em termos de composição de espécies podem ser incluídas num mesmo bioma, desde que vivam sob condições ambientais semelhantes. Assim, o bioma da Mata Atlântica, por exemplo, agrupa um conjunto variado de comunidades vegetais. Além de florestas de tipos diversos, estão incluídas comunidades periféricas – restingas, manguezais e campos de altitude, entre outros – sujeitas a estresses ambientais mais pronunciados, como extremos de temperatura, inundações, secas, alta salinidade, etc. Baseados no exame de resíduos de vegetação, bem como na consideração da vegetação potencial do território – i.e., daquilo que o solo e o clima poderiam fazer crescer caso os humanos não interviessem –, os biogeógrafos estimaram a área "original" dessas comunidades e dos biomas que eles formam (Tabela 1).

Fonte: IBGE/MMA, Mapa de Biomas do Brasil - Primeira Aproximação, 2004

Além da Mata Atlântica, o território brasileiro conta com mais cinco biomas continentais: a Amazônia, o Cerrado, a Caatinga, o Pantanal e o Pampa. O maior deles – a Amazônia – compõe quase a metade de nosso espaço territorial, enquanto o menor – o Pantanal – ocupa menos de dois por cento dele. O primeiro possui comunidades predominantemente florestais, de vegetação bastante densa e estratificada, enquanto o segundo é composto por formações predominantemente campestres, de vegetação aberta. De modo geral, cada bioma é uma combinação mais ou menos singular de campos e florestas. As florestas, tanto as extremamente chuvosas – como na planície Amazônica ou nas encostas atlânticas da Serra do Mar – quanto aquelas marcadas pela presença de uma estação seca – na Zona da Mata mineira, por exemplo – são caracterizadas por uma grande diversidade de espécies arbóreas que, em sua maioria, conservam suas folhas durante todo o ano. Elas acolhem muitas outras plantas oportunistas, as quais usam os troncos das árvores como "escada" para poderem alcançar a luz, no topo do dossel (o "teto" da mata). As trepadeiras ou lianas são aquelas que, como o nosso conhecido e adorado feijão, enrodilham seu caule ao redor do lenho de outras plantas, servindo-se deles como suporte para sua escalada rumo ao Sol. As matas brasileiras são muito ricas em cipós de todos os tipos. Já as epífitas crescem nos próprios troncos e galhos das árvores, a partir de sementes depositadas por pássaros e outros dispersores. As orquídeas e bromélias talvez sejam os melhores – e mais bonitos – exemplos de epifitismo.

Já os campos, em comparação, são bem mais uniformes, tendo em vista a predominância das gramíneas. No entanto, são relativamente raros os campos compostos quase que exclusivamente de gramíneas e ervas baixas, como as estepes russas, de onde, aliás, vem este nome. Elas são observáveis apenas em certas partes do Pampa. Nos outros biomas campestres, no entanto, são muito mais comuns as estepes pontilhadas com arbustos e pequenas árvores, que antigamente eram chamadas de "campos sujos". Uma maior frequência dessas plantas lenhosas passa a caracterizar uma estepe arborizada. Os cerrados ou savanas, por sua vez, que dominam todo o Brasil central, representam um nível ainda mais elevado de arborização. Mais próximos da mata do que do campo, os cerrados chegam a apresentar um grau considerável de estratificação, sobretudo nos vales e áreas mais úmidas, onde aparecem os "cerradões" – ou, na terminologia atual, savanas florestadas. No outro extremo dessa escala está a savana estépica do semi-árido nordestino, a famosa Caatinga, com seus arbustos raquíticos e retorcidos crescendo esparsamente sobre um solo ralo e quase sempre pedrogoso.

Esse mosaico de combinações vegetais encaixa-se de modo variado na estrutura territorial do Estado brasileiro (Tabela 2). Algumas Unidades da Federação, como Acre e Rio de Janeiro, assentam-se inteiramente em um único bioma – neste nosso exemplo, Amazônia e Mata Atlântica, respectivamente. A maioria das UF's (17 das 27), no entanto, assenta-se em dois ou mais biomas. As UF's mais diversificadas, nesse sentido, são Bahia, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas gerais, que possuem porções de três biomas dentro de seus limites político-administrativos. Em termos quantitativos mais precisos, a Bahia é a UF mais plural da Federação, já que as proporções entre as "fatias" dos três biomas – no seu caso, Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga – são as mais equilibradas: respectivamente, 19%, 27% e 54%.

Tabela 2. Percentual Aproximado de Área Ocupada por Bioma nas Unidades da Federação

Fonte: IBGE/MMA, Mapa de Biomas do Brasil - Primeira Aproximação, 2004

Compreender o significado territorial dos biomas é um requisito importante para que cada um de nós possa contribuir para a construção de uma sociedade democrática. Se é verdade que nossos ambientes de vida refletem cada vez mais as estruturas econômicas, políticas e culturais que ao longo tempo criamos, também é verdade que, mesmo nas áreas densamente urbanizadas, eles nunca são inteiramente humanos. Estamos sempre dialogando com realidades biofísicas que, por definição, extrapolam o âmbito da ação humana consciente e deliberada. Não se trata, contudo, de jogar a responsabilidade de desastres ambientais – como enchentes e deslizamentos de encostas – para a conta da "Natureza", mas, pelo contrário, reconhecer a existência dessas alteridades para, com isso, estimular o trato respeitoso do nosso ambiente ecológico. Exatamente por lidarmos com seres que são diferentes de nós é que devemos avançar sempre com precaução, amparados pelo melhor conhecimento científico disponível e, acima de tudo, por processos e decisões democráticas.


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